>>> escritos de Barateza Duran segundo o método espasmódico dialético <<<
Antes de tudo, o que há de mais importante em uma biblioteca é ter acesso a ela. Ou melhor, ter acesso aos objetos que fazem dela uma biblioteca, os livros (impressos em geral, na verdade). De nada adianta saber da magnitude das bibliotecas americanas, dos exemplares raros das bibliotecas francesas. Queremos livros para ler, para ver, manusear, carregar pra lá e prá e não passar nem das primeiras 10 páginas. Estamos falando de livros do cotidiano, livros banais, livros que são lidos, manuseados a exaustão, que serão reformados ou decompostos. Minha mãe me falou de um ditado suíço, onde se diz que livro bom é livro gasto, passado, destruído, pois isso nos mostra que ele foi lido e relido, diversas mãos e olhos e narizes passaram por ele. Não estou dizendo para jogar o livro no chão e pisar em cima, nem para você não ter um mínimo de cuidado com o objeto, só estou falando que livros, ao serem manuseados, se desgastam. Isso é normal. Todo cuidado é pouco.
Ao mesmo tempo, o fetiche do livro. Livros bonitos, bem editados. Livros raros, livros achados no chão empoeirado de um sebo qualquer do mundo, que se tornou uma jóia rara em sua coleção. Livros herdados de avós, pais, amigos, frutos de relacionamentos acabados. Livros roubados, emprestados e nunca devolvidos. Livros que você não empresta nem que lhe paguem. Livros de artista. Livros únicos. Cadernos. O que há neste objeto ancestral, nesta ferramenta perfeita, que tanto nos fascina? Não vou me arriscar a dar uma resposta definitiva para uma pergunta tão perigosa, há milhares de respostas, cada um com seus gostos, seus interesses, seus fetiches (os desinteressados por livros não tem vez aqui). Pessoas que colecionam livros e nada lêem e pessoas que lêem tudo e não tem um livro na estante. Não há regras, o fato é que os livros existem, uma infinidade deles, uma avalanche, um “Niágara de livros” para citar o Joseph Mitchell. E é por isso que existem bibliotecas.
Tendo em vista essas perspectivas, talvez contraditórias, é que estamos iniciando esta coluna com uma série de textos sobre as melhores bibliotecas do mundo. De forma completamente informal, eu, Barateza Duran, irei escrever as mais subjetivas opiniões possíveis sobre o tema aqui proposto.
As Melhores Bibliotecas do Mundo #1: bibliotecas de amigos
Já faz algum tempo, estava conversando sobre livros, bibliotecas, publicações, com a Virgínia Rodrigues e ela comentou que o futuro das bibliotecas estava nos acervos de amigos. Fiquei com esta afirmação na cabeça. Não sei quanto ao futuro, mas sei que as bibliotecas de amigos são, sem sombra de dúvidas, as melhores bibliotecas que existem. São de livre acesso e tem um ambiente agradável, geralmente acompanhado de um comentário acerca da obra, de recomendações e agrados em forma de piadas, cafés, biscoitos, cigarros, um copo de cerveja, uma conversa boba e uma promessa de voltar a se ver e de devolver o livro sabe-se lá quando.
Pode-se alegar que os acervos dessas bibliotecas são modestos, mas geralmente eles vêm acompanhados da vivência de seu dono, é um reflexo. Pessoas compram livros por necessidades distintas, seja por interesse (infinitos!), por estudos (quantos temas existem?), por fetiche. Sendo um amigo seu, é provável que você compartilhe afinidades com esta pessoa e que também tenha um interesse, mesmo que moderado, pelos interesses dela. São livros selecionados, você sabe a sessão da biblioteca que está freqüentando. Se juntar as bibliotecas de todos os meus amigos, poderia organizá-las em prateleiras segundo seus nomes, pois os conhecendo, sei que livros encontrarei ali. É muito simples e bastante prático. Não há armários de pesquisa por nome e sobrenome, temas relacionados, ano de publicação. Basta uma visita, um telefonema ou um email.
Esses acervos tão cativos e próximos guardam surpresas que nenhuma outra biblioteca do mundo pode proporcionar. Você pode ser surpreendido por um amigo que lhe empresta um livro, sem que você pedisse, nem fizesse idéia de que ele o possuísse, apenas porque como amigo, te conhece , sabe de seus interesses, dos seus gostos e às vezes, sabe até sobre seus defeitos ou dificuldades e pode tentar te ajudar com uma leitura certeira. Sem dúvida um serviço exclusivo das bibliotecas de amigos.
sem dúvida as bibliotecas de amigos estão cheias de boas virtudes, barateza. a única biblioteca em que performatizamos roubos históricos de livros e outros artefatos para devolvê-los 1 semana ou 10 anos mais tarde. a propósito, roubei um kerouac seu há uns meses... li, não gostei e estou oficialmente devolvendo à sua baratezíssima gibiblioteca. e que seja eterno enquanto duran.
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