quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Infinínfimos IX - O preço da verdade


O preço da verdade é a tristeza. Não fosse assim, as melhores obras de arte nasceriam em meio à narcose dos dias de sono, sob o sol dessa rotina cataléptica das cidades. Mas não é isso o que acontece, embora muitos finjam profundidade e outros tantos procurem (do interior da caverna de Platão) retratar com alguma lucidez a tragédia da solidão humana. 

Eu me perguntava, enfim, por que a tristeza e a fragilidade parecem ser os sentimentos mais genuinamente artísticos ou aqueles que me tornam mais disponível – tanto como possível criador como enquanto leitor ou espectador de outras obras. A resposta, me parece, vem pelo fato de que a presença da morte (e a certeza da iminência da morte) dilui o embotamento dos nossos olhos televisivos; dilacera o tecido linear dos dias e noites que se sucedem, idênticos. 

Talvez alguém possa argumentar que estou resumindo a arte ao sentimento do sublime e, possivelmente, com alguma razão. Mas sei o quanto é possível criar objetos artísticos sob outras influências, menores. Estou apenas lembrando a questão nada original de que, quando algo em nossas vidas nos põe em confronto direto com nosso fim - nossa fragilidade - somos capazes de notar beleza em detalhes que até então pareceriam corriqueiros. 

Lembro perfeitamente que durante uma viagem de Lucy (no meio de uma tremenda bad trip) consegui compreender com as vísceras certos poemas que até então não faziam tanto sentido para mim, como por exemplo “Os Sinos” de Allan Poe. - O silêncio eterno desse espaço infinito me apavora, escreveu Pascal.

Mas não se trata só do sublime. Quando eu soube que o câncer da minha avó paterna podia ter se espalhado, senti-me confrangido e impotente, mas não tive nenhum acesso de incrível lucidez ou treva. Foi o ponto de apenas deixar-me sensibilizar pela fragilidade que há em tudo. Escrevi um poema consternado sobre o bondinho que tombou no bairro de Santa Teresa, há um mês. Li com olhos líquidos um livro do Menotti Del Picchia chamado Juca Mulato, porque minha avó me o havia presenteado e até mesmo marcado os versos preferidos de seu pai, meu bisavô Geraldo. 

A fragilidade, a morte. Tanto que o principal responsável por eu ter começado a escrever poemas foi um menino chamado Rodrigo, irmão do meu amigo Ricardo, que escreveu um livro de poesias chamado colibrilhos&colibreus, antes de morrer aos 24 anos (eu estava pelos 20). Nunca conheci o Rodrigo, mas minha ligação foi tão sincera que pela segunda vez gravei um cd com seus poemas, agora produzido pela nossa editora. Afinal de contas, esse estar por um fio nos humaniza; revela-nos através da finitude, alguma verdade. E o preço da verdade é a tristeza.

3 comentários:

  1. I'm alive e vivo muito vivo vivo vivo fell the sound of music banging in my belly belly belly

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  2. In the Eletric Cinema or on the telly, telly, telly
    Nine out of ten movie stars make me cry
    I'm alive

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  3. Know that one day I must die
    I'm alive

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