Uns
cinco anos atrás ouvi o Bernardo Vilhena (poeta e histórico
parceiro do Lobão em suas composições) dizer que o livro não
acabaria nem por reza. Ele dizia que o que fosse informação
migraria para o virtual e o que fosse objeto de desejo permaneceria
sendo impresso por muito tempo. Dito e feito. Nunca se imprimiram
tantos livros no Brasil e casas como a Demônio Negro (hoje selo da
editora Anna Blume), Cosac Naify e, mais azarona porém presente, a
nossa Cozinha Experimental esbanjam talento na hora de produzir
livros objetos de arte e, mais do que isso, objetos de desejo.
Na Espanha não é diferente, a Del Centro Editores, de Madrid, lançou em 2012 o poema La madre – do poeta cubano José Lezama Lima – em edição fac-símile do original datilografado, com dedicatória manuscrita e assinatura do autor; a primeira edição da obra inclui também fac-símile de uma carta de Lezama Lima a sua irmã Rosa, com correções manuais, além de cinco fotografias impressas em papel fotográfico com margens transparentes, que podem ser destacadas, em que aparecem Lezama, sua irmã e familiares. A publicação foi feita em baixa tiragem, com caixa elaborada em papel e tecido estampados à mão. Cada um dos cem exemplares numerados e assinados pelo editor custa € 120,00.
Na Espanha não é diferente, a Del Centro Editores, de Madrid, lançou em 2012 o poema La madre – do poeta cubano José Lezama Lima – em edição fac-símile do original datilografado, com dedicatória manuscrita e assinatura do autor; a primeira edição da obra inclui também fac-símile de uma carta de Lezama Lima a sua irmã Rosa, com correções manuais, além de cinco fotografias impressas em papel fotográfico com margens transparentes, que podem ser destacadas, em que aparecem Lezama, sua irmã e familiares. A publicação foi feita em baixa tiragem, com caixa elaborada em papel e tecido estampados à mão. Cada um dos cem exemplares numerados e assinados pelo editor custa € 120,00.
Nascido
no acampamento militar de Columbia, Lezama viveu em Havana até seus
últimos dias, falecendo em 1976. Precursor do neobarroco latino
americano, é autor do romance Paradiso, traduzido para o
português pela poeta Josely Vianna Baptista e publicado pela editora
Brasiliense em 1987, romance que é citado no filme Fresa y
chocolate (coprodução Cuba/México/Espanha, com direção de
Tomás Guitiérrez Alea) como o romance maior da ilha. Lezama
Lima é o poeta que abre a coletânea Caribe Transplatino –
Poesia neobarroca cubana e rioplatense (Iluminuras, 1991)
organizada pelo também poeta Néstor Perlongher e traduzida pela
mesma Josely Vianna. Hoje estudado em universidades de todo o mundo,
é possível afirmar que, se como disse Antônio Risério “o
Barroco foi a única coisa que uniu a América Latina”, o
neobarroco foi a última coisa que tentou reatar esses laços, se
tornando uma teoria-escola-estilo que abarcou poetas de todo o
continente e também da península Ibérica. Para terminar a
conversa, segue um trecho do seu surreal, intimista e ao mesmo tempo
histórico poema “Uma ponte, uma grande ponte”, pg. 35 de Caribe
Transplatino:
Em
meio às águas congeladas ou ardentes,
uma
ponte, uma grande ponte que não dá para ver,
mas
que caminha sobre sua própria obra manuscrita,
sobre
sua própria dúvida em poder se apossar
das
sombrinhas das mulheres grávidas,
com
a gravidade de uma pergunta levada em lombo de mula
que
tem que cumprir o ofício
de
transformar ou alongar os jardins em nichos
onde
os meninos confiam seus cachos às ondas,
pois
as ondas são tão artificiais quanto o bocejo divino,
como
o jogo dos deuses,
como
o caracol que cobre a aldeia
com
uma voz roladora de dados,
de
quinquênios, e de animais que passam
pela
ponte com a última lâmpada
de
segurança de Edison. A lâmpada, felizmente,
estoura,
e no avesso da cara do operário,
me
divirto colocando alfinetes,
pois
era um de meus amigos mais bonitos,
a
quem eu invejava em segredo...
Fontes
e para saber mais:
Del
Centro Editores: http://www.delcentroeditores.net/search?q=la+madre
Revista
Agulha: http://www.revista.agulha.nom.br/ag62lima.htm
por Homero Cintilante, jornalista e fisioterapeuta.
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