segunda-feira, 16 de maio de 2011

Infinínfimos II - Morte minha

Gosto de pensar que o amazonense Thiago de Mello é uma espécie de Bashô tropical. Se o japonês recusou, no século XVII, a vida de samurai para escrever haikais:...........................................casca oca
..............a cigarra
..............cantou-se toda

O amazonense deixou a medicina agora há pouco, ali no século XX, para dedicar-se também ao ofício poético. Está certo que muitos escritores se realizaram só depois de tentarem uma vida burguesa e convencional, mas acho que o Thiago me fez lembrar o lendário japonês pela delicadeza e singeleza dos seus versos, tão cândidos, ainda quando engajados, mesmo os mais políticos.

Lembro de ter comprado o seu livro "Campo de Milagres" após ler em pé na livraria Saraiva, em Curitiba, o poema "Morte minha". Nem a capa horrenda do livro (não sei como a Bertrand teve coragem de publicar uma capa daquelas) me fez recuar. Desde então, esse é um dos meus poemas de cabeceira, ao qual sempre recorro e com o qual sempre aprendo e renovo meu olhar sobre a morte, sim, a morte: minha companheira! Não citarei trechos desse poema, como fiz com a sutra do Ginsberg. E também não encontrei nada na internet, por isso não deixo um link para consulta, mas acredito que o leitor deve mesmo ir à biblioteca ou à livraria, sentir o peso e o cheiro do papel antes de mergulhar nessa pequena obra-prima.

Para não ficar sem postar algo do poeta, aqui vai o artigo IV do seu genial "Os estatutos do homem", que por sinal é uma espécie de haikai contemporâneo:

................................Artigo IV................................Fica decretado que o homem
................................não precisará nunca mais
................................duvidar do homem.
................................Que o homem confiará no homem
................................como a palmeira confia no vento,
................................como o vento confia no ar,
................................como o ar confia no campo azul do céu.

Evoé!
Marcelo Reis de Mello.

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