Manhã de sol. Baía da Guanabara. Mendigos e bicicletas. Velas no mar. Tiro a camisa, sento-me perto dos barcos e dos gatos, espero meu amigo Ricardo Potsch. Abro o livro de um outro Ricardo, o Cassiano, modernista de Martim Cererê, caçador solitário de papagaios inexistentes, entomologista de pequenos insetos coloridos parecidos com camafeus. A antologia que hoje carrego quem fez foi o Rubem Braga, em 1964. O poema fica melhor se lido com calma e se chama
VOCÊ E O SEU RETRATO
Por que tenho saudade
de você, no retrato,
ainda que o mais recente?
E por que um simples retrato,
mais que você, me comove,
se você mesma está presente?
Talvez porque o retrato,
já sem o enfeite das palavras,
tenha um ar de lembrança.
Talvez porque o retrato
(exato, embora malicioso)
revele algo de criança
Por que tenho saudade
de você, no retrato,
ainda que o mais recente?
E por que um simples retrato,
mais que você, me comove,
se você mesma está presente?
Talvez porque o retrato,
já sem o enfeite das palavras,
tenha um ar de lembrança.
Talvez porque o retrato
(exato, embora malicioso)
revele algo de criança
(como, no fundo da água,
um coral em repouso).
um coral em repouso).
Talvez pela idéia de ausência
que o seu retrato faz surgir
colocado entre nós dois
(como um ramo de hortênsia).
Talvez porque o seu retrato,
embora eu me torne oblíquo,
me olha, sempre, de frente
(amorosamente)
Talvez porque o seu retrato
mais se parece com você
do que você mesma (ingrato).
que o seu retrato faz surgir
colocado entre nós dois
(como um ramo de hortênsia).
Talvez porque o seu retrato,
embora eu me torne oblíquo,
me olha, sempre, de frente
(amorosamente)
Talvez porque o seu retrato
mais se parece com você
do que você mesma (ingrato).
Talvez porque, no retrato você está imóvel.(sem respiração...)
Talvez porque todo retrato é uma retratação.
Abraços do fundo do
Mar.
Mar.
wow..poema certeiro
ResponderExcluirmar, tua ambientação me pôs com vento e sal na boca.
belobeloinfinínfimomanomanolo
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